Manifesto – Hospital Distrital da Figueira da Foz EPE
O Hospital Distrital da Figueira da Foz, E. P. E. é muito mais do que uma conquista de Abril. É uma conquista desta cidade e do seu concelho, assumindo um cariz tanto mais importante quanto a sua própria designação o atesta ao classificá-lo como "distrital".
Sendo o mais importante empregador do concelho, em termos de quadros especializados, o nosso hospital foi sendo, ao longo dos anos, alvo de ataques da mais diversa ordem, tendo o último acabado por privar a unidade da sua maternidade, colocando a gravidez no concelho num índice de risco digno do terceiro mundo, com os casos conhecidos de crianças a nascer na estrada - felizmente, até hoje, sem consequências graves para parturientes e recém-nascidos.
O nosso hospital, com as limitações próprias e conhecidas, ou impostas por diversos interesses, sempre aqui esteve, quase há 40 anos, conduzido por aqueles que o fizeram nascer, com profissionalismo reconhecido, dedicação (e, muito amor à camisola), cumprindo a sua missão, reconhecidamente competente.
A empresarialização do hospital não trouxe quaisquer benefícios nem à prestação de cuidados nem à qualidade dos mesmos, com pessoal médico, de enfermagem e auxiliar a prestar cuidados em condições cada vez mais difíceis, quer em termos técnicos, quer em termos motivacionais.
Agora notícias dispersas, mostram um novo esforço de “racionalização” (e de desumanização economicista), que, a concretizar-se, converterá o nosso hospital numa outra qualquer coisa, se não se estiver mesmo a pensar no seu encerramento, ou eventual privatização.
O que se pretende é, e para já, o encerramento do hospital de dia dos serviços oncológicos, que arrastará, a um mesmo tempo, o aumento dos custos para o utente e uma imensurável perda de qualidade de vida para o doente e seus familiares, com deslocações a Coimbra ou Lisboa e os prejuízos daí resultantes.
Ao mesmo tempo, prevê-se o encerramento do bloco operatório a partir das 02:00h, e a deslocalização da VMER, a viatura de emergência médica, o que, para além da consequente limitação de assistência na urgência, levará à desclassificação do hospital e à perda de qualidade de atendimento.
Não queremos, nem aceitamos, mais esta desvalorização do serviço público de saúde e, muito menos, esta desclassificação do Hospital Distrital da Figueira da Foz. Esta é uma situação intolerável com que não podemos contemporizar, pelo que se apela à indignação e oposição de todos os figueirenses, da população do concelho em geral, bem como dos concelhos limítrofes que se socorrem deste hospital.
Figueira da Foz, 19 de Novembro de 2011
No blogue "Outra Margem" coloquei um comentário ao depoimento de Mário Bertô, com mais alguma informação, que quero aqui deixar para memória futura. Cá vai:
ResponderEliminarConcordo plenamente com o texto e aproveito para dar mais umas achegas.
De facto o edifício do hospital da Misericórdia estava num estado deplorável, chegando a chover na mesa operatória. Havia um único enfermeiro de noite, que atendia a Urgência e as necessidades dos doentes internados. Caso considerasse necessário, chamava o médico para casa.
O edifício da Gala estava equipado e pronto a funcionar como Centro de Reabilitação, tendo o mobiliário e equipamento sido desviado pouco antes da "ocupação" para diversos locais, entre os quais os estaleiros navais e o hospital dos Covões.
Os médicos que vieram de Coimbra, os "7 Magníficos", eram os drs. Abílio Veiga de Oliveira, António Serrão, Alberto Seabra, Delfim Pena, João bento Pinto, Afonso Branco e Luís Santo Amaro.
A primeira Comissão Instaladora foi constituída pelos srs. António Menano (gerente/administrador), dr. Joaquim Feteira, dr. Abílio Bastos, enf.º Armando Aleixo e enf.ª Piedade Bita.
A abertura, Novembro de 1975, foi de emergência, com aviso 12 horas antes, para dar apoio ao surto de cólera que então grassava no país, tendo funcionado onde hoje é a enfermaria de Medicina. Com tão curto espaço de tempo para preparar a recepção aos doentes, os poucos trabalhadores existentes trabalharam 48 horas seguidas, para dar respostas a dezenas de problemas impensáveis, tanto a nível dos tratamentos como de energia eléctrica, águas, esgotos, etc.
Com estes espírito de abnegação e competência de todos, chegou-se ao Hospital que hoje se pode ver, muitas vezes "caçando com um gato" e apesar dos gestores (?) que têm sido impostos por vias partidárias desde 1985. Basta dizer que, em 2005, cerca de 80% do equipamento tinha mais de 5 anos, o que em equipamento de electromedicina significa obsoleto.