quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Esperamos pois que o Conselho de Administração do HDFF siga outro caminho


Algumas observações sobre o Hospital Distrital da Figueira da Foz e as ameaças que constituem as medidas de contenção de custos agora anunciadas. É um facto que em alguns meios circulam rumores de que será possível encontrar soluções para manter a oncologia, através de protocolos com o Instituto Português de Oncologia, ou manter a Viatura Médica de Emergência, integrando a equipa da VMER na equipa de urgência, rentabilizando assim dois salários por turno.
Conhecendo por experiência própria as dificuldades inerentes a estas situações, é evidente que é de enaltecer o esforço em encontrar alternativas que mantendo no essencial os serviços em causa, serviços relativamente aos quais não nos cansamos de reconhecer e enaltecer a qualidade dos profissionais envolvidos.
Acontece que no entanto é o encerramento do Bloco Operatório, a partir das duas horas a medida que, a prazo se tornará mais gravosa para os utentes em geral e para o desenvolvimento futuro do Concelho da Figueira da Foz. Vejamos um exemplo:
Imaginemos um acidente que entra na Urgência do HDFF por volta das 23 horas. Entre os procedimentos de diagnóstico e de estabilização, decidiu-se que necessitava de uma intervenção cirúrgica. Subiu para o Bloco Operatório cerca das 23h e 45 minutos, para uma intervenção que demora cerca de uma hora. Uma intervenção cirúrgica de uma hora implica que dentro dos procedimentos normais sairia do Bloco por volta da 1hora, uma hora e trinta minutos. Ora tendo em conta que o anestesista é não só o responsável pela indução anestésica, mas também pelo pós-operatório imediato não há anestesista que corra o risco de aceitar uma intervenção cirúrgica nestas condições.
Assim teremos que recuar três horas, que é o tempo mínimo para um pós-operatório de previsão de risco normal, para terminar uma intervenção o que quer dizer que no HDFF as intervenções cirúrgicas teriam que estar terminadas ás 23 horas, o que remeteria o seu inicio para as 21 horas. Se nos lembrarmos que a hora de jantar é entre as 20 e as 21 horas, podemos garantir que as cirurgias do HDFF terminariam às 20 horas. O hospital perderia a capacidade para responder às situações de cirurgia geral que ocorram durante metade do dia. Nestas circunstâncias, passaria a ter condições para garantir apenas a cirurgia do ambulatório e deixaria de ter condições para a média e grande cirurgia.
Estão então criadas as condições para a desqualificação da urgência. Uma urgência que não garante durante 24 horas os procedimentos normais da valência de cirurgia geral não pode ser qualificada de médico-cirúrgica. Passará inevitavelmente a urgência básica, com as consequências inerentes a uma resposta menos qualificada para os utentes e a uma ausência de garantia para quem nos visita ou para quem aqui investe.
A razão apontada para o encerramento do Bloco é dizem-nos o facto estatístico de que entre as 2horas e as 8 horas o número de intervenções realizadas é ínfimo e não justifica a equipa cirúrgica. O mais grave é que compreender esta razão pode estar consciente ou inconscientemente a inverter aquilo que são os nossos valores. Isto é não nos passa pela cabeça desejar um qualquer acidente nocturno para aumentar a produção da equipa cirúrgica do HDFF. É que apesar de tudo ter saúde ainda é mais barato que estar doente.
Um segundo e ultimo aspecto. Não compreendemos, porque não é comum o uso deste período para aferir a produção de uma equipa. Estamos no entanto convencidos, mesmo sem conhecer a produção dos outros hospitais distritais, que os números serão idênticos. E mesmo para terminar. As equipas de urgência garantem não só a urgência externa mas também a urgência interna isto é dos doentes internados, que confiam que o hospital possui os recursos necessários para as suas necessidades. E essa confiança desaparecerá naturalmente.
Esperamos pois que o Conselho de Administração do HDFF siga outro caminho.

NELSON FERNANDES      

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